Introdução
Cálculos renais, também conhecidos como pedras nos rins, são uma condição comum e dolorosa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Essas formações sólidas de minerais e sais podem causar dor intensa, problemas urinários e, em alguns casos, complicações mais graves. Fatores como desidratação, dietas ricas em certos nutrientes, obesidade e condições médicas podem aumentar o risco de formação de cálculos renais. Neste artigo, exploraremos se três substâncias amplamente utilizadas — creatina, whey protein e agonistas do receptor GLP-1 — têm alguma relação com o risco de desenvolver cálculos renais. Nosso objetivo é fornecer informações claras e baseadas em evidências para ajudar você a tomar decisões informadas sobre sua saúde.
O que são Cálculos Renais?
Cálculos renais são depósitos duros formados por minerais e sais que se acumulam nos rins. O tipo mais comum é o de oxalato de cálcio, mas também existem cálculos de ácido úrico, estruvita e cistina. Eles podem variar de tamanho, desde pequenos grãos até massas maiores, e causar sintomas como dor intensa no lado ou nas costas, sangue na urina, náuseas e dificuldade para urinar. Fatores de risco incluem:
- Desidratação: Baixa ingestão de água aumenta a concentração de minerais na urina, favorecendo a formação de cristais.
- Dieta: Consumo elevado de sal, oxalato (presente em alimentos como espinafre e chocolate) ou proteínas animais.
- Condições médicas: Obesidade, diabetes tipo 2, gota e histórico familiar de cálculos renais.
- Outros fatores: Infecções urinárias, certos medicamentos e alterações metabólicas.
Entender como suplementos e medicamentos afetam esses fatores é essencial para prevenir cálculos renais.
Creatina e Cálculos Renais
O que é Creatina?
A creatina é um composto natural encontrado em alimentos como carne e peixe, além de ser produzido pelo corpo nos rins, fígado e pâncreas. Como suplemento, geralmente na forma de monoidrato de creatina, é amplamente utilizado por atletas e fisiculturistas para melhorar o desempenho físico, aumentar a força muscular e acelerar a recuperação após exercícios intensos. A creatina é armazenada nos músculos e ajuda a fornecer energia durante atividades de alta intensidade.
A Creatina Causa Cálculos Renais?
Houve preocupações de que a creatina pudesse prejudicar os rins, incluindo a possibilidade de causar cálculos renais, devido à sua conversão em creatinina, um subproduto filtrado pelos rins. No entanto, estudos científicos não encontraram evidências de que a creatina cause cálculos renais em indivíduos saudáveis.
Um relato de caso publicado no Tunisian Medical Journal em 2022 acompanhou um jovem atleta saudável com histórico de cálculos renais. Após tomar monoidrato de creatina por dois meses, um ultrassom renal de acompanhamento não mostrou recorrência de cálculos renais, mesmo 14 meses após o término da suplementação [1]. Além disso, uma revisão abrangente da Healthline, com base em estudos, afirma que a creatina é segura e não causa danos renais ou cálculos em pessoas sem doenças renais preexistentes [2]. Outras pesquisas, incluindo uma revisão sistemática de 2020, confirmaram que doses de até 5 g por dia durante 35 dias não afetaram a função renal [2].
No entanto, a creatina pode aumentar a retenção de água nos músculos, o que torna a hidratação adequada ainda mais importante. A desidratação é um fator de risco conhecido para cálculos renais, pois concentra os minerais na urina, facilitando a formação de cristais. Portanto, quem usa creatina deve garantir uma ingestão de água de pelo menos 2 a 3 litros por dia, especialmente se for fisicamente ativo.
Tabela: Estudos sobre Creatina e Função Renal
Estudo | Ano | Tipo | Participantes | Resultados |
Akbari HA, et al. | 2022 | Relato de Caso | Atleta com histórico de cálculos renais | Sem recorrência de cálculos após 2 meses de creatina [1] |
Healthline Review | 2024 | Revisão | Geral | Sem evidências de danos renais ou cálculos em indivíduos saudáveis [2] |
Revisão Sistemática | 2020 | Meta-análise | Atletas e indivíduos saudáveis | Doses de até 5 g/dia não afetaram função renal [2] |
Conclusão sobre Creatina: Com base nas evidências atuais, a creatina não parece aumentar o risco de cálculos renais, mesmo em pessoas com histórico da condição, desde que mantenham uma boa hidratação. No entanto, indivíduos com doenças renais preexistentes devem consultar um médico antes de usar o suplemento.
Whey Protein e Cálculos Renais
O que é Whey Protein?
O whey protein é uma proteína de alta qualidade derivada do soro do leite, um subproduto do processo de fabricação de queijo. Rico em aminoácidos essenciais, como a leucina, é amplamente utilizado por atletas e entusiastas do fitness para promover o crescimento muscular, melhorar a recuperação após exercícios e complementar a ingestão de proteínas. Existem três tipos principais: concentrado, isolado e hidrolisado, que variam em pureza e digestibilidade.
O Whey Protein Causa Cálculos Renais?
A relação entre whey protein e cálculos renais é mais complexa. Dietas ricas em proteínas, especialmente de origem animal, podem aumentar a excreção de cálcio e ácido úrico na urina, além de reduzir o pH urinário, criando um ambiente propício à formação de cálculos renais, particularmente os de oxalato de cálcio e ácido úrico.
Um estudo publicado em Urolithiasis em 2017 avaliou os efeitos do whey protein e da albumina em 18 voluntários saudáveis. Após três dias de suplementação, não houve alterações significativas nos parâmetros litogênicos médios (como cálcio, oxalato, ácido úrico e pH urinário). No entanto, 39% dos participantes apresentaram aumento de mais de 50% no cálcio urinário, e 44% mostraram redução no pH urinário após o consumo de whey protein, sugerindo que algumas pessoas podem ser mais suscetíveis a mudanças que aumentam o risco de cálculos [3].
Uma revisão narrativa publicada em Healthcare em 2024 reforçou que a ingestão elevada de whey protein pode aumentar o cálcio urinário e reduzir o pH urinário, ambos associados a um maior risco de formação de cálculos renais, especialmente em indivíduos sedentários ou com predisposição [4]. Estudos em ratos também indicaram que dietas ricas em whey protein podem aumentar a excreção de cálcio e o volume renal, o que pode contribuir para o risco de cálculos [4].
Além disso, a desidratação, comum em pessoas que consomem grandes quantidades de whey protein sem aumentar a ingestão de água, pode exacerbar o risco. Um relato anedótico em uma rede social destacou um caso de cálculos renais em uma pessoa que consumia whey protein em excesso e negligenciava a hidratação, reforçando a importância de beber bastante água [9].
Tabela: Estudos sobre Whey Protein e Risco de Cálculos Renais
Estudo | Ano | Tipo | Participantes | Resultados |
Hattori CM, et al. | 2017 | Estudo Intervencional | 18 voluntários saudáveis | Sem alterações médias, mas 39% com ↑ cálcio urinário, 44% com ↓ pH urinário [3] |
Amanzadeh, et al. | 2003 | Estudo Pré-clínico | Ratos | ↓ pH urinário, ↑ cálcio e amônia na urina com alta ingestão de proteína [4] |
Aparicio, et al. | 2011 | Estudo Pré-clínico | Ratos | ↑ volume renal e excreção de cálcio com alta ingestão de proteína [4] |
Conclusão sobre Whey Protein: O consumo moderado de whey protein é geralmente seguro para a maioria das pessoas, mas a ingestão excessiva, especialmente sem hidratação adequada, pode aumentar o risco de cálculos renais em indivíduos suscetíveis. Recomenda-se limitar a ingestão de proteína a 12-20% das calorias diárias e manter uma boa hidratação (2-3 litros de água por dia).
Agonistas do Receptor GLP-1 e Cálculos Renais
O que são Agonistas do Receptor GLP-1?
Os agonistas do receptor GLP-1 são medicamentos injetáveis ou orais usados para tratar diabetes tipo 2 e obesidade. Eles imitam a ação do hormônio GLP-1, que estimula a liberação de insulina, reduz a secreção de glucagon, retarda o esvaziamento gástrico e promove saciedade, auxiliando na perda de peso. Exemplos incluem semaglutida (Ozempic, Wegovy, Rybelsus), liraglutida (Victoza, Saxenda) e exenatida (Byetta).
Os Agonistas do Receptor GLP-1 Causam Cálculos Renais?
Não há evidências diretas que associem os agonistas do receptor GLP-1 ao aumento do risco de cálculos renais. Esses medicamentos são amplamente estudados por seus benefícios no controle glicêmico, perda de peso e redução de riscos cardiovasculares. Alguns estudos sugerem que eles podem ter efeitos protetores nos rins, especialmente em pacientes com diabetes tipo 2, ao retardar a progressão da doença renal diabética [5].
Uma revisão publicada no Clinical Kidney Journal em 2022 destacou que os agonistas do receptor GLP-1 oferecem proteção renal por meio de mecanismos diretos (como redução de estresse oxidativo e inflamação) e indiretos (como controle de glicemia, pressão arterial e peso corporal) [5]. A bula do Ozempic (semaglutida) não lista cálculos renais como efeito colateral, embora mencione a possibilidade de lesão renal aguda devido à desidratação causada por efeitos gastrointestinais, como náuseas e vômitos [6].
Um estudo publicado no JAMA Internal Medicine em 2024 comparou inibidores de SGLT-2 (outra classe de medicamentos para diabetes) com agonistas do receptor GLP-1 e encontrou uma redução de 31% no risco de cálculos renais em pacientes usando SGLT-2 em comparação com GLP-1 [7]. Isso sugere que os agonistas do receptor GLP-1 não oferecem o mesmo efeito protetor contra cálculos renais que os inibidores de SGLT-2, mas não indica que aumentam o risco.
Tabela: Estudos sobre Agonistas do Receptor GLP-1 e Resultados Renais
Estudo | Ano | Tipo | Participantes | Resultados |
Granata A, et al. | 2022 | Revisão | Pacientes com diabetes tipo 2 | Efeitos protetores renais, sem menção a cálculos renais [5] |
Paik JM, et al. | 2024 | Estudo de Coorte | 716.406 pacientes com diabetes tipo 2 | SGLT-2 reduz risco de cálculos renais em 31% comparado a GLP-1 [7] |
Ozempic Bula | 2025 | Documento Oficial | – | Sem menção a cálculos renais como efeito colateral [6] |
Conclusão sobre Agonistas do Receptor GLP-1: Com base nas evidências atuais, os agonistas do receptor GLP-1 não parecem estar associados ao aumento ou redução do risco de cálculos renais. Eles são considerados seguros em relação a esse aspecto, mas pacientes devem monitorar efeitos colaterais gastrointestinais que podem levar à desidratação, um fator de risco para cálculos.
Conclusão
A creatina é segura em relação aos cálculos renais, desde que acompanhada de hidratação adequada, mesmo para pessoas com histórico da condição. O whey protein, quando consumido em excesso e sem suficiente ingestão de água, pode aumentar o risco de cálculos renais em indivíduos suscetíveis, devido a alterações no cálcio urinário e no pH da urina. Já os agonistas do receptor GLP-1 não têm relação conhecida com a formação de cálculos renais, com estudos sugerindo até benefícios renais em pacientes com diabetes. Para todos esses casos, a hidratação adequada é fundamental para prevenir cálculos renais. Consulte sempre um médico antes de iniciar suplementos ou medicamentos, especialmente se você tem histórico de cálculos renais ou outras condições médicas.
Referências
- Akbari HA, et al. Effect of creatine supplementation on kidney stones recurrence in an athlete: a case report. Tunis Med. 2022;100(6):477-480. Link
- Healthline. Creatine Side Effects, Interactions, and What You Should Know. Link
- Hattori CM, et al. Whey protein and albumin effects upon urinary risk factors for stone formation. Urolithiasis. 2017;45(5):421-428. Link
- [Authors]. Investigating the Health Implications of Whey Protein Consumption: A Narrative Review of Risks, Adverse Effects, and Associated Health Issues. Healthcare. 2024;12(2):246. Link
- Granata A, et al. GLP-1 receptor agonists and renal outcomes in patients with diabetes mellitus type 2 and diabetic kidney disease: state of the art. Clin Kidney J. 2022;15(9):1657-1665. Link
- Ozempic Prescribing Information. Link
- Paik JM, et al. Sodium-Glucose Cotransporter 2 Inhibitors and Nephrolithiasis Risk in Patients With Type 2 Diabetes. JAMA Intern Med. 2024;184(3):265-272. Link