A testosterona é um hormônio sexual masculino essencial para o desenvolvimento e manutenção de características como massa muscular, densidade óssea, libido e bem-estar geral. No entanto, seu uso, seja na forma de reposição hormonal para tratar condições médicas como o hipogonadismo, seja de maneira indevida para fins estéticos ou de desempenho atlético, tem gerado debates devido aos benefícios e riscos associados. Este artigo explora como a testosterona pode ser tanto um “herói” para quem precisa quanto um “vilão” quando usada sem indicação médica, com foco nos benefícios para homens com hipogonadismo e nos riscos, incluindo ginecomastia, danos hepáticos, lesões tendíneas, atrofia testicular, infertilidade e possíveis complicações cardiovasculares.

O que é a Testosterona e o Hipogonadismo?

A testosterona é produzida principalmente nos testículos e desempenha um papel crucial na saúde masculina, influenciando a libido, a força muscular, a densidade óssea e até o humor. O hipogonadismo é uma condição em que o corpo não produz testosterona suficiente, seja por problemas nos testículos (hipogonadismo primário) ou na glândula pituitária ou hipotálamo (hipogonadismo secundário). Os sintomas incluem baixa libido, disfunção erétil, fadiga, perda de massa muscular, depressão e redução da densidade óssea. A reposição de testosterona (TRT) é frequentemente prescrita para aliviar esses sintomas, mas seu uso requer supervisão médica rigorosa.

Benefícios da Reposição de Testosterona em Homens com Hipogonadismo

Para homens com hipogonadismo, a TRT pode trazer benefícios significativos, melhorando a qualidade de vida. Estudos mostram que a terapia pode:

Esses benefícios são mais pronunciados quando a TRT é administrada sob supervisão médica, com doses ajustadas para manter níveis hormonais dentro da faixa normal.

Riscos do Uso de Testosterona Sem Necessidade Médica

O uso de testosterona por homens sem hipogonadismo, como em casos de busca por ganho muscular, melhora estética ou desempenho atlético, pode levar a sérios riscos à saúde. Esses riscos são particularmente preocupantes quando a testosterona é usada em doses elevadas ou sem acompanhamento médico. Abaixo estão os principais riscos associados:

Ginecomastia

A ginecomastia, ou aumento do tecido mamário em homens, pode ocorrer devido à conversão de testosterona em estrogênio por meio de um processo chamado aromatização. Isso é mais comum em homens que usam doses elevadas de esteroides anabolizantes ou certas formas de testosterona, como o enantato. A prevalência de ginecomastia em usuários de esteroides anabolizantes pode chegar a 20-30% [3].

Atrofia Testicular e Infertilidade

A administração de testosterona exógena pode suprimir a produção natural de testosterona e esperma, levando à atrofia testicular (redução do tamanho dos testículos) e infertilidade. Isso ocorre porque a TRT inibe a liberação de hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) e hormônio luteinizante (LH), que estimulam os testículos a produzir testosterona e esperma. Estudos indicam que a atrofia testicular é um efeito colateral comum da TRT, especialmente em homens que usam testosterona por longos períodos [4]. A infertilidade pode ser reversível em alguns casos com a interrupção da terapia, mas a recuperação pode ser lenta ou incompleta.

Danos Hepáticos

Certas formas orais de testosterona, como o metiltestosterona, são 17-alfa-alquiladas, o que aumenta sua resistência ao metabolismo hepático, mas também eleva o risco de toxicidade hepática. Esses compostos podem causar colestase, elevação de enzimas hepáticas, icterícia e, em casos raros, tumores hepáticos ou insuficiência hepática. Um estudo de 1996 relatou hiperbilirrubinemia extrema associada ao uso de esteroides anabolizantes, incluindo metiltestosterona [5]. No entanto, formas não alquiladas de testosterona, como injeções ou géis transdérmicos, apresentam risco significativamente menor de danos hepáticos.

Lesões Tendíneas

Há evidências de que o uso de testosterona está associado a um maior risco de lesões tendíneas, como rupturas do tendão de Aquiles e do bíceps distal. Um estudo retrospectivo de 2023 encontrou que homens em TRT tinham uma probabilidade 24% maior de sofrer lesões no tendão de Aquiles e 54% maior de necessitar de cirurgia em comparação com controles [6]. A testosterona pode aumentar a rigidez dos tendões e reduzir a resposta ao relaxamento, comprometendo a integridade tendínea.

Outros Riscos

Além dos mencionados, o uso de testosterona pode causar outros efeitos colaterais, como:

Estratégias para Minimizar Riscos

Para homens com hipogonadismo que necessitam de TRT, algumas estratégias podem minimizar os riscos:

Conclusão

A testosterona pode ser um “herói” para homens com hipogonadismo, oferecendo benefícios significativos na função sexual, densidade óssea, massa muscular e qualidade de vida. No entanto, quando usada sem indicação médica, especialmente em doses elevadas, pode se tornar um “vilão”, com riscos como ginecomastia, atrofia testicular, infertilidade, danos hepáticos, lesões tendíneas e, possivelmente, eventos cardiovasculares graves que podem levar à morte. A decisão de iniciar a TRT deve ser feita com base em uma avaliação médica cuidadosa, com monitoramento contínuo para garantir que os benefícios superem os riscos. Para aqueles que consideram o uso de testosterona por motivos não médicos, os perigos potenciais devem ser cuidadosamente ponderados.

Tabela de Benefícios e Riscos da Testosterona

AspectoBenefícios (com Hipogonadismo)Riscos (Uso Indevido)
Função SexualMelhora libido e função erétil [1]Ginecomastia devido à aromatização [2]
Densidade ÓsseaReduz risco de osteoporose [1]
Massa MuscularAumenta massa e força muscular [1]Lesões tendíneas (ex.: tendão de Aquiles) [6]
Humor e Qualidade de VidaMelhora humor e bem-estar [1]
Saúde HepáticaDanos hepáticos com formas orais alquiladas [5]
FertilidadeAtrofia testicular e infertilidade [4]
Saúde CardiovascularBenefícios controversos [1]Possível aumento de infarto e derrame [7]

Referências:

  1. Bassil N, Alkaade S, Morley JE. The benefits and risks of testosterone replacement therapy: a review. Ther Clin Risk Manag. 2009;5:427-48. PMC2701485
  2. Rhoden EL, Morgentaler A. Treatment of testosterone-induced gynecomastia with the aromatase inhibitor, anastrozole. Int J Impot Res. 2004;16(1):95-7. PubMed:14963480
  3. Gynecomastia in men on Testosterone Therapy
  4. Testicular Atrophy: Symptoms, Causes, and Treatment
  5. Androgenic Steroids – LiverTox
  6. Rebello E, et al. Testosterone replacement therapy is associated with increased odds of Achilles tendon injury and subsequent surgery: a matched retrospective analysis. J Foot Ankle Res. 2023;16(1):76. DOI:10.1186/s13047-023-00678-0
  7. Vigen R, et al. Association of testosterone therapy with mortality, myocardial infarction, and stroke in men with low testosterone levels. JAMA. 2013;310(17):1829-36. DOI:10.1001/jama.2013.280386
  8. Hudson J, et al. Adverse cardiovascular events and mortality in men during testosterone treatment: an individual patient and aggregate data meta-analysis. Lancet Healthy Longev. 2022;3(6):e381-e393. DOI:10.1016/S2666-7568(22)00096-4